sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Variações de ânimo

 

 

Num Salmo Davi proclama: "Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro" (Sl 4.8). Noutro Salmo, logo a seguir, o mesmo Davi confessa: "Estou cansado de tanto gemer; todas a noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago" (Sl 6.6).             

Não há contradição em Davi. Ele foi sincero em ambas as declarações. Acontece que não falou essas coisas no mesmo dia, na mesma ocasião. Numa noite, o salmista estava muito bem. Noutra noite, muito mal.

Isso ocorre com todos nós. Ninguém está sempre muito bem. Ninguém está sempre muito mal. Há dias ensolarados e há dias sombrios. Há ocasiões de alegria e ocasiões de tristeza. Há circunstâncias favoráveis e circunstâncias desfavoráveis. Há situações confortáveis e situações desconfortáveis.

Existe uma alegria fácil e uma alegria difícil. A primeira é uma alegria espontânea, a segunda é uma alegria conquistada. A alegria fácil depende de um dia bonito, depende da ausência da adversidade, depende de calmarias entre uma tempestade e outra. A alegria difícil depende da comunhão com Deus, depende da fé, depende da aceitação de certas carências, depende de aprendizado às vezes longo e demorado. É a experiência de Paulo: "aprendi a viver contente em toda e qualquer situação" (Fp 4.11). Antes, o apóstolo tinha dificuldade de conviver com a humilhação, com a fome, com a escassez. A alegria conquistada vale mais que a alegria espontânea, porque custa um preço.

Nem sempre a alegria dura muito tempo. De igual modo, nem sempre o choro dura muito tempo. Um estado de espírito pode empurrar o outro sem mais nem menos. É o próprio Davi quem lembra: "Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30.5).

Como homem, Jesus experimentou tristeza. Depois daquela agradabilíssima reunião no cenáculo, Jesus "começou a entristecer-se e a angustiar-se", ali no Getsêmani. Foi nessa ocasião que Ele confidenciou a Pedro, Tiago e João: "A minha alma está profundamente triste até à morte" (Mt 26.37-38). Ao referir-se a esse passo da vida de Jesus, o autor da Epístola aos Hebreus afirma que o Senhor deixou então escapar "forte clamor e lágrimas" (Hb 5.7). Três dias depois, porém, estourou a alegria da ressurreição. Os discípulos devem ter se lembrado da lição que Jesus lhes havia transmitido: "Quando a mulher está para dar à luz, fica triste porque chegou a hora de sofrer. Mas depois já não se lembra mais do sofrimento, pois está feliz porque nasceu uma criança" (Jo 16.21, BLH).

 

Pastoral antidepressiva (I) Revista Ultimato edição 269



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